Com a palavra, os Povos do Cerrado

Banner Notícia

Publicado em July 29, 2016, 8:25 a.m.

O DGM Brasil está na fase final da seleção de suas propostas. Das 158 Manifestações de Interesse recebidas, 41 passaram na pré-seleção conduzida pela equipe chave e pelo Comitê Gestor do projeto, e recebem agora visitas de checagem para avaliação de salvaguardas socioambientais.

Enquanto o DGM Brasil viaja pelo Cerrado conhecendo iniciativas propostas por Povos e Comunidades Tradicionais para conservação ambiental e adaptação às mudanças climáticas, conheça um pouco mais sobre três representantes destes povos que integram nosso Comitê Gestor. Com papel deliberativo, o Comitê Gestor Nacional, formado por representantes dos Povos do Cerrado e do governo (MMA, FUNAI e Comitê Interministerial do BIP), tem a função de debater e decidir sobre os assuntos do DGM Brasil, respeitando e potencializando o protagonismo dos Povos na tomada de decisões e participação nas ações pela restauração de ecossistemas e melhoria da gestão territorial.

Afinal, são os povos que conhecem bem o território onde pisam, e sabem como defendê-lo. Aqui, Lucely Moraes Pio, Anália Tuxá e Jossiney Silva nos contam um pouco de suas histórias, lutas e esperanças.

 

Lucely Moraes Pio, representante quilombola do Comitê Gestor do DGM Brasil:

“Eu sou Lucely, da comunidade quilombola do Cedro, município de Mineiros do Goiás. Essa comunidade foi fundada em 1830 pelo meu tataravô, Francisco Antônio de Morais, e sua esposa Ana. Quando eles chegaram não existia nada, e chamavam lá de Sertão do Goiás. Depois de um tempo, começaram a chegar coronéis e garimpar. Foi aí que os primeiros habitantes foram chegando e foi se formando a cidade de Mineiros. O nome de Mineiros se deu porque eles foram de Minas para lá, então ficou de homenagem a eles. Hoje, o forte do nosso trabalho lá são plantas medicinais. E o projeto do DGM vai ajudar porque temos áreas degradadas, precisamos reflorestar porque hoje os grandes produtores estão derrubando o Cerrado e a gente tem que transferir espécies de plantas medicinas pra dentro da comunidade para que o nosso trabalho não seja prejudicado. O forte do DGM é que a gente possa aumentar a quantidade destas espécies de plantas medicinas no território da nossa comunidade, fazendo plantio de mudas, aproveitando estas partes que estão degradadas”.

 

 

Anália Tuxá, representante indígena do Comitê Gestor do DGM Brasil:

“Nós, Tuxá, conquistamos recentemente nosso território, com a ajuda dos Encantados. Os povos são as pessoas que estão ali convivendo com o Cerrado, que conhecem a realidade, que conhecem os efeitos das mudanças climáticas, e estão sentindo que o Cerrado está enfraquecendo. O que a gente vê é que o DGM é uma peça importante para as comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas. Vem como uma forma de poder colocar estes projetos para acontecer. O Comitê Gestor é feito de agentes multiplicadores que podem fazer que do DGM uma referência no Brasil, não só no bioma do Cerrado, mas em outros biomas como Caatinga e Pantanal que também estão ameaçados. Eu vejo o DGM hoje um exemplo e uma conquista para o Povo Tuxá. É uma salvaguarda de garantia do nosso território. E vem, além disso, ajudar nessa empreitada de conservar e manter o Cerrado em pé, para que nós possamos trabalhar no território, mantendo a sua preservação, a nossa forma de vida e cultura”.

 

 

Jossiney Silva, representante das comunidades tradicionais do Comitê Gestor do DGM Brasil:

“Sou de Luciara, da região do Araguaia. A origem da história dos retireiros é de um povo que se identificou com as cheias das águas do rio Araguaia. E chama retireiro porque quando vem a cheia do rio, o retireiro sai das áreas alagáveis e procura as áreas mais altas. Quando a água do rio volta a baixar, ele volta. Esse aspecto de vida vem ao longo dos anos, eu já sou a quarta geração de retireiros, sempre tentando manter os costumes. Hoje a gente sofre ameaça com os grandes empreendimentos do modelo do agronegócio e monocultura de soja, que implicam muito com a nossa existência como retireiros. Uma forma de coibir estas ameaças é a gente ter nosso território nas nossas mãos, e essa é a nossa grande luta. Eu acho que esta nossa forma de vida é uma forma de garantir o nosso bioma, nosso ecossistema. Como membro do DGM, eu represento a minha comunidade e outras comunidades tradicionais, e acho que participar aqui é um ganho de sabedoria e de dar visibilidade para a nossa história”.