Publicado em June 20, 2017, 5:55 p.m.
O Intercâmbio DGM América Latina chegou ao fim neste domingo (18), após uma rica programação de diálogos, trocas de experiência e visitas a territórios tradicionais. Os Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais da Nicarágua, Colômbia, Guatemala, Costa Rica, Panamá, México, Peru, Equador e Moçambique (único africano), países envolvidos na iniciativa DGM, além de dialogarem sobre mudanças climáticas, territorialidades e atuação política, também conheceram o Quilombo da Lapinha e a Terra Indígena Xakriabá no Norte de Minas Gerais. Luis Felipe Duchicela, Povo Indígena Puruá do Equador e representante do Banco Mundial, considera que o intercâmbio foi uma grande oportunidade para as lideranças indígenas: “Vejo muito interesse por parte dos participantes em ver como a iniciativa está sendo implementada e levar um pouco do aprendizado para seus países”, comenta.
A visita ao Quilombo da Lapinha, realizada na sexta-feira(16), teve como objetivo demonstrar uma experiência de luta quilombola. Apesar de não ser diretamente apoiado pelo DGM Brasil, o Quilombo se insere na estratégia de recuperação dos territórios tradicionais. “Não é possível pensar REDD+ se não houver defesa dos direitos destas comunidades”, lembra Paula Vanucci, da equipe chave DGM Brasil. “O Quilombo da Lapinha mostra uma experiência que beneficia a comunidade, e é um território que em seu âmago está diretamente relacionado a Redução das Emissões decorrentes do Desmatamento e Degradação”. Em uma area composta por 126 famílias e uma população aproximada de 600 pessoas, os quilombolas de Lapinha reivindicam um território de 7.566,1612 hectares. O Quilombo teve seu Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) publicado em dezembro de 2015.
Na Terra Indígena Xakriabá, visitada no sábado (17) os participantes foram recebidos ao som do toré. Conheceram a história de luta e resistência indígena e visitaram ainda a Casa de Sementes de Vargem Grande. “É muito importante esse intercâmbio”, conta Nicolau Xakriabá, coordenador da Casa que armazena sementes nativas crioulas da região. “Porque ajuda a gente a repensar o que vem acontecendo em relação às mudanças climáticas aqui e em outros países. E fortalece nossos povos e comunidades tradicionais”. No território, o DGM Brasil apoia dois projetos: “Extrativismo do Povo Xacriabá: fonte de renda, segurança alimentar e proteção do Cerrado”, e “Projeto Todos Juntos em prol da recuperação e restauração dos recursos naturais em comunidade território indígena Xacriabá". Os representantes indígenas dos projetos trocaram experiências sobre o processo de formulação das iniciativas e seus benefícios para as aldeias envolvidas. “Graças ao DGM estamos recebendo esse pessoal aqui”, comenta Eny Xakriabá, coordenadora da Associação Indígena Aldeia Riacho dos Buritis e adjacências. “Para nós, Xakriabá, é um prazer muito grande”.
Para Lucely Pio, liderança do Quilombo do Cedro de Goiás e integrante do Comitê Gestor do DGM Brasil, o intercâmbio foi uma oportunidade de troca de aprendizados: “A gente conheceu como os outros países estão trabalhando, como os povos fazem conservação de suas sementes e seus biomas, como se organizam politicamente”. Januário Tseredzaro Ruri-õ, indígena Xavante e também membro do CGN, ressalta a importância ir até os territórios: “foi muito importante conhecer territórios tradicionais no Norte de Minas. Assim os participantes puderam sentir na pele como vivem os Povos no Brasil, e as comunidades também puderam conhecer o DGM e saber que o DGM está ouvindo seus problemas”. No último dia (18), o intercâmbio visitou ainda a Area de Experimentação e Formação em Agroecologia do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas, conhecendo estratégias que unem conhecimento tradicional e científico na criação de alternativas agroecológicas de convivência com o semiárido e adaptação às mudanças climáticas.