Publicado em July 1, 2016, 4:59 p.m.
Os casos de incêndio no Cerrado, por causas naturais ou antrópicas, tendem a aumentar durante o inverno, quando o clima seco combinado com ventos fortes, baixa umidade do ar e secura da massa vegetal favorecem a propagação do fogo. Somado à pecuária extensiva e ao agronegócio, o aumento dos incêndios tem significado uma ameaça para o bioma, que é hoje um “hotspot” para conservação da biodiversidade mundial.
“O Cerrado possui alguma recorrência de incêndios naturais, mas a grande maioria é proposital”, afirma Gabriela Guimarães, integrante do Comitê Gestor Nacional do DGM Brasil e da coordenação geral de monitoramento territorial da Fundação Nacional do Índio (FUNAI). “Cerca de 70% vem de roças e plantios que perderam o controle, além dos casos de incêndios causados por conflitos territoriais”.
Se os incêndios naturais tem efeitos positivos no bioma – estimulando a germinação de sementes, contribuindo para o processo de reciclagem dos nutrientes do solo e diminuindo a quantidade de matéria orgânica acumulada – os incêndios causados pelo homem promovem degradação ambiental, erosões e perda de biodiversidade, além de liberaram para a atmosfera dióxido de carbono e outros gases causadores do efeito estufa.
Como forma de reverter esta ameaça, a FUNAI conta hoje com um programa de ações para prevenção e combate a incêndios, que inclui capacitações, formação de brigadas indígenas, monitoramentos e estudos. As brigadas indígenas são uma iniciativa de cooperação técnica entre FUNAI, que contribui com o apoio da logística, e IBAMA, que se dedica à capacitação, e consiste na formação e contratação de indígenas brigadistas que se dedicam a preservar e combater incêndios em seus territórios. Hoje, a maior parte destas brigadas está localizada na região do Cerrado, compreendendo regiões que vão do Mato Grosso ao Maranhão.
As capacitações por preservação, por sua vez, conduzem a construção de asseios em torno de aldeias e plantios, além acompanharem a queima de roças, promovendo o uso controlado do fogo. “O Cerrado é um ambiente adaptado ao fogo. Existe uma necessidade do uso do fogo, e uma boa resistência a ele. Muitas vezes uma região que sofreu uma queimada em fevereiro, em julho do mesmo ano já consegue se recuperar. Totalmente diferente de incêndios na região amazônica”, compara Gabriela. As queimadas controladas contribuem para o equilíbrio sustentável do bioma, respeitando ainda os conhecimentos ancestrais do uso do fogo partilhados pelas populações tradicionais.
João Nonoy Krikati, representante do Comitê Gestor Nacional do DGM Brasil, lembra que ações de preservação do Cerrado são muitas vezes preteridas em relação a outros biomas, como a Amazônia. “No Brasil, temos vários biomas. Mas nem sempre trabalhamos com todos eles”. Para ele, proteger a savana mais rica em biodiversidade do mundo é um envolvimento e uma luta: “Esse processo de abraçar o Cerrado nós abraçamos, e estamos agora enfrentando, para nós e para as próximas gerações”.