Publicado em Nov. 27, 2018, 5:34 p.m.
Os camponeses das comunidades de Praia, Malhadinha, Jatobá, Bonito, Busca Vida e Catolés, no Oeste da Bahia, zona rural do município de Correntina, manejam uma área coletiva de quase 3,5 mil hectares para retiro bianual do gado bovino, extrativismo de plantas medicinais e frutos nativos para uso comunitário, além de coleta de mel.
No entanto, devido à morte de nascentes, incêndios e desmatamento do bioma Cerrado na região, destruição provocada pelas empresas voltadas ao agronegócio instaladas ali a partir da década de 70, a sociobiodiversidade do território e os modos de vida da Comunidade Tradicional de Fecho de Pasto de Clemente se encontram ameaçadas.
Essa situação, aliada aos efeitos das mudanças climáticas, com a irregularidade das chuvas e o aumento da temperatura, causou alterações na forma tradicional da comunidade desenvolver os seus cultivos e abastecimento dos mercados locais, inviabilizando a prática tradicional da agricultura camponesa.
“Tínhamos cultivos em abundância, como feijão, arroz, mandioca, cana-de-açúcar, banana, manga, milho, hortaliças, criação de gado, galinha, porco, cabra, ovelha, os quais eram feitos em área de sequeiro e irrigados através de canais de regos”, relata Elizete Carvalho, da Associação Comunitária dos Pequenos Criadores do Fecho de Pasto do Clemente (ACCFC). “Atualmente, esses cultivos estão em menor quantidade, pois tivemos muita perda da produção devido às estiagens, bem como perda de alguns canais de irrigação por conta da secagem de vários riachos e do Rio Arrojado. Além disso, as doenças nas plantações são inúmeras”, completa.
Para enfrentar esse contexto, com o apoio do DGM Brasil, desde 2017 a ACCFC está à frente do subprojeto Guardiões do Cerrado em Pé. Por meio da iniciativa, a brigada comunitária foi capacitada e já combateu com vitória seis focos de incêndio em vários fechos de pastos do Vale do Arrojado, protegendo nascentes, córregos e veredas, e assegurando condições de reprodução do modo de vida camponês na região.
“O objetivo é garantir que a área coletiva do Fecho de Clemente seja monitorada e manejada de forma sustentável, com o Cerrado em pé e livre de incêndios criminosos e irresponsáveis”, comenta Elizete Carvalho. “No último período de estiagem, graças ao apoio do DGM Brasil, pudemos comemorar, pois não houve nem um incêndio e nem um tipo de invasão, ao contrário de períodos anteriores”, completa.
Envolvimento das comunidades
Ainda no âmbito do subprojeto está prevista capacitação com as famílias do Fecho de Pasto e mais três fechos vizinhos, oficinas de capacitação sobre educação ambiental, primeiros socorros, manejo de fogo e combate a incêndios, plantio de mudas de árvores nativas, coleta de sementes, plantio de sementes de árvores nativas.
“As expectativas com o DGM Brasil são grandes no sentido de continuarmos defendendo o uso sustentável do Cerrado, mantendo ele em pé, fazendo o seu uso sustentável. E, ao mesmo tempo, proporcionar formação, diálogos com comunidades vizinhas, a fim de reforçarmos o cuidado com o nosso bioma, nossos territórios, em consonância com a qualidade de vida das famílias das comunidades envolvidas”, aponta o coordenador do projeto, Eldo Barreto. “Dialogar e desenvolver práticas sobre manejo de fogo, combater incêndios, criar parcerias e alianças entre os membros das comunidades, para que juntos possamos usar o fogo ao nosso favor e não para destruir a nossa rica biodiversidade”, acrescenta.
As ações empreendidas pela ACCFC no âmbito do subprojeto Guardiões do Cerrado em Pé beneficia diretamente mais de 130 pessoas, sendo 51 jovens e 31 mulheres. De forma indireta envolve mais de 500 pessoas.