“Nossa luta se dá pelo que temos em comum”

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Publicado em 6 de Setembro de 2016 às 17:42

O IV Colóquio Internacional de Povos e Comunidades Tradicionais, realizado no campus da Unimontes, Montes Claros, entre os dias 30 de agosto de 1º de setembro, foi um momento de encontros, diálogos e articulação política. Iniciativa de cooperação entre Brasil e Alemanha, o colóquio contou com a participação de indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais de diversas regiões brasileiras, além de pesquisadores, organizações de apoio e representantes do poder público. A unificação dos povos tradicionais como estratégia de defesa de direitos foi tema constante durante o encontro, como ressaltado por Edel Moraes, vice presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS): “Nossa luta, nossa filiação, se dá por aquilo que nós temos em comum. A formação do nosso Brasil possibilitou identidades que a legislação brasileira chama de ‘outros’. E nossa luta se dá pelo reconhecimento e visibilidade destas populações tradicionais que vivem no Cerrado, na Amazônia, em todos os biomas”.

Dutza Xavante, da Mobilização dos Povos Indígenas do Cerrado (MOPIC), lembrou como a degradação do Cerrado vem afetando a vida dos povos da região: “Sou de Mato Grosso, da região do Cerrado. E a destruição é grande. Eu vejo que estamos vivendo um sistema cruel de injustiça, porque estão querendo acabar com tudo. Mas estamos nos unindo, e vamos nos juntar para poder vencer com dignidade”.

A quarta edição do colóquio teve como tema “Estado, capital e territórios tradicionais: dinâmicas territoriais em disputa", e buscou analisar o avanço do capital sobre os territórios tradicionais – além de propor alternativas de autonomia e resistência. A fala de Ailton Krenak, liderança indígena, lembrou o acidente de Mariana, quando o rompimento de uma das barragens da mineradora Samarco, controlada pela Vale e BHP Billitonda, causou o maior desastre ambiental do Brasil. “O Rio Doce está temporariamente em coma. Isso é uma grave violência, porque mostra como nós chegamos ao ponto de ser capaz de deixar matar um rio”, afirmou Ailton durante a conferência de abertura. “A civilização dos brancos pensa que tudo é mercadoria, que a floresta e a água são mercadorias. Nós temos que pensar na terra que é nossa mãe como um organismo inteiro, um organismo vivo que nós estamos disputando como se fosse uma mercadoria”.

Os três dias de colóquio analisaram o contexto atual de crise e fragilização da democracia, que sinalizam para o fim de políticas e perseguição a movimentos e lideranças sociais. Mas, sobretudo, afirmaram o avanço na construção da autonomia das populações tradicionais, propondo territórios de uso coletivo, envolvendo a juventude e, principalmente, criando formas autônomas de experiências no campo da sustentabilidade. Para Felisa Anaya, pesquisadora NIISA/Unimontes, encontros como este são a oportunidade para valorizar saberes tradicionais em diálogo com o meio acadêmico: “A partir de 2014, o colóquio tomou o formato de espaço da universidade onde os povos colocam seus saberes. Da mesma forma que a academia produz conhecimento, a gente sabe que estes povos constroem muito conhecimento, em outra forma de ciência”.